Brasil: Entrevista exclusiva com Edson Cruz, presidente da Fetracom-Base

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Leia entrevista exclusiva para o site da FLEMACON com Edson Cruz, presidente da FETRACOM-BASE (Federação Interestadual dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Indústria da Construção e do Mobiliário nos Estados da Bahia e Sergipe), sobre a Campanha Salarial dos trabalhadores do ramo da construção. Acordo fechado com os patrões. Vitória dos trabalhadores!

FLEMACON – Os trabalhadores da construção no estado da Bahia (Brasil), apesar de todas as dificuldades do momento para negociar com o patronal na pandemia, conseguiram um reajuste com reposição total da inflação, que outras categorias não estão conseguindo. A que se deve essa conquista?

Edson Cruz – Nessa negociação, nós apresentamos aos patrões a pauta de reivindicações, pedindo reajuste de 7%, com base em análise do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), sabendo que a inflação (do período) iria ficar com percentual de 5% e mais alguma coisa. Nossa data base é janeiro, não conseguimos ganho real, mas garantimos a manutenção da validade de toda a nossa Convenção Coletiva por mais dois anos, sem nenhuma perda de cláusula. Isso foi fundamental. E nós discutimos como repassar a inflação. O patronal fez uma contraproposta de repassar a inflação, então uma parcela maior da inflação, que ficou agora de imediato (fevereiro) 3,45%, e 2% ficou para maio. Eu orientei a todos os Sindicatos filiados que aprovassem em suas assembleias. Foi uma negociação bastante complicada, neste momento, porque está sendo uma bandeira de luta deles a retirada do aviso prévio indenizado. E isso também nós conseguimos manter por mais dois anos na Convenção Coletiva da categoria. A Fetracom-BASE todos os anos vem sempre coordenando  essa discussão e os Sindicatos filiados nos dão essa confiança, para que a nossa Federação coordene, e os companheiros estão entendendo isso, e nós estamos conseguindo manter essa discussão, que é muito importante. Essa campanha foi uma conquista, de qualquer maneira, dentro do momento difícil economicamente e também numa pandemia, que nos deixa muito apreensivos.

P – Como foi que a Fetracom-Base fez a mobilização dos trabalhadores, com as dificuldades para fazer assembleia presencial?

R -Com relação às assembleias e para fortalecer mais a luta, a mobilização dos trabalhadores (as) foi fundamental. A Federação orientou os sindicatos a fazerem algumas assembleias e mobilizações presenciais, porque isso iria refletir positivamente para nós, na mesa de negociação. E os Sindicatos corresponderam, mobilizaram os trabalhadores (as) em sua base, para que nós tivéssemos esse êxito nas negociações. Fizemos algumas assembleias presenciais, os Sindicatos tiveram todos os cuidados, por causa da pandemia. Inclusive a última assembleia, do fechamento da Campanha Salarial, que foi para aprovar a proposta, na avaliação de nossa Federação, foi uma mobilização muito positiva. Orientamos aos sindicatos que fizessem as assembleias nos canteiros de obras com toda a segurança, máscara, distanciamento social e álcool gel. Isso foi fundamental para que na mesa de negociação a gente tivesse condições de fechar a Campanha Salarial 2021.

P – Quantos Sindicatos estão filiados hoje à Fetracom? Quantos trabalhadores são filiados nesses Sindicatos?

R – Fetracom-Base tem 20 sindicatos filiados, dentre esses, são 19 Sindicatos filiados no estado da Bahia e um Sindicato no estado de Sergipe. Nós representamos os trabalhadores do ramos da construção, inclusive os das prestadoras de serviços de energia elétrica (Coelba) e da concessionária de água e saneamento (Embasa). Com a alta rotatividade no setor da consttrução, em função da crise econômica e política no Brasil, não temos como dizer com precisão quantos trabalhadores são filiados hoje.

P – A decisão do acordo foi por unanimidade?

R – Sim, foi por unanimidade. Nós explicamos aos trabalhadores as dificuldades do momento, as perdas que a classe trabalhadora já teve com a reforma trabalhista e previdenciária, e que não sabemos o que ainda está por vir, com esse governo de Bolsonaro, que representa o atraso.

P – O patronal colocou alguma dificuldade na negociação?

R – Os patrões como sempre colocaram dificuldades nas negociações, inclusive tentando chantagear para que nós cedêssemos algumas modificações na Convenção Coletiva de Trabalho, como a questão do aviso prévio indenizado, que eles já vêm tentando retirar da Convenção, já há alguns anos. Nós estamos resistindo fortemente e conseguimos manter neste acordo o aviso prévio indenizado. Na negociação do ano passado, não conseguimos manter a cláusula de homologação obrigatória no Sindicato, mas estamos retomando esta luta, para a homologação voltar a ser feita no sindicato. Isso dá um peso, uma consistência à luta. Em breve poderemos estar de novo com essa cláusula na Convenção coletiva.

P – Qual a validade dessa nova CCT?

R – A validade é 2021 e 2022, são dois anos, sendo que na data base, em janeiro de 2022 são discutidas apenas as cláusulas econômicas. As demais cláusulas da Convenção serão mantidas.

P – Vc acha que a Fetracom-BA saiu fortalecida dessa negociação?

R – A Federação si fortalecida de uma negociação como essa, Inclusive nós temos dois Sindicatos filiados, nos dois municípios de Candeias e Camaçari, que têm a data base também em janeiro, mas entregam pautas individuais, nós também orientamos e eles concordaram em aprovar a pauta na assembleia deles.

P – Há outras campanhas salariais em curso, nos sindicatos filiados à Fetracom-Base?

R – Sim, nós estamos com duas outras campanhas salariais, que a data base também é em janeiro: dos trabalhadores de artefatos de cimentos e mármore e granito. Já estamos negociando a campanha salarial dos trabalhadores da indústria de cerâmicas para construção, que a data base é em fevereiro, já temos agendadas algumas reuniões, o caminho será esse, já deixamos claro para os patronais dessas categorias. Nós vamos seguir também por esse caminho da construção, sempre buscando conseguir um ganho real. Acreditamos que também faremos boas negociações e os trabalhadores mais uma vez serão vitoriosos, apesar de todas as dificuldades que se apresentam no presente momento.

P – Deixe uma mensagem para as outras entidades, Flemacon, Sindicatos do ramo  da construção na Bahia e Sergipe, e outras entidades da América Latina e Caribe.

R – A mensagem que deixamos aqui para todos os sindicatos e entidades, é que neste momento que estamos vivendo aqui no Brasil, particularmente, com a pandemia, um momento sindical muito difícil, a reforma trabalhista nos abalou bastante. O governo que nega tudo, só está visando aprovar legislação de armas e em benefício do agronegócio, não tem um projeto de uma economia que beneficie a todos, inclusive aos trabalhadores, é negacionista na questão da pandemia, isso tudo é muito ruim para um país como o nosso. Mas, continuamos na luta, fortalecendo a entidade, buscando sindicalizar mais trabalhadores em nossos Sindicatos filiados à Federação. Somos persistentes e temos certeza que vamos sair dessa, em 20222, o Brasil, a sociedade, os trabalhadores vão refletir bastante e buscar um comando para o país, nas eleições presidenciais, que seja progressista e melhor para todos. Nós da esquerda, acreditamos que vamos ter e apresentar um nome forte, para que possamos eleger e colocar o Brasil nos trilhos e melhorar as condições de todos. É isso aí: vamos resistir, permanecer na luta para fortalecer e vencer todos os obstáculos. Quem luta, conquista!